segunda-feira, 30 de agosto de 2010

MAGDA SOARES E A ALFABETIZAÇÃO


Ultimamente tem-se tentado definir o conceito de alfabetização de modo demasiado abrangente considerando-o um processo permanente, que se estenderia por toda a vida, que não se esgotaria na aquisição do aprendizado da leitura e da escrita, entre outros.

Etimologicamente o termo alfabetização não ultrapassa o significado de “levar a aquisição do alfabeto”, ou seja, ensinar o código da língua escrita, ensinar as habilidades de ler e escrever; pedagogicamente, atribuir um significado muito amplo ao processo seria negar-lhe a especificidade, com reflexos indesejáveis na caracterização de sua natureza, na configuração das habilidades básicas de leitura e escrita, na definição da competência em alfabetizar.
Por isso podemos então acreditar por alfabetização, em seu sentido próprio e especifico, como processo de aquisição do código escrito, das habilidades de leitura e escrita.
Em meados dos anos 80 SOARES, Magda ainda sob influencia dos métodos tradicionais, classificou e enumerou três tipos de conceitos para alfabetização.
O primeiro se refere à alfabetização como processo de representação de fonemas em grafemas e vice-versa. E portanto, estaria alfabetizado que pudesse reconhecer o alfabeto, ler silabas ou palavras isoladas.
O segundo diz que alfabetização seria o processo de expressão/compreensão de significados. Por isso somente seria considerado alfabetizado quem pudesse compreender o que escrevia e pudesse interpretar o seu significado.
Já em sua terceira concepção acreditava que a alfabetização dependia de características culturais, econômicas e tecnológicas. Ou seja, para um lavrador a alfabetização teria fins e objetivos bem diferentes do que para um operário da região urbana.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

QUEM É TELMA WEISZ

Doutora em psicologia pela Universidade de São Paulo, Telma Weisz foi a criadora do Programa de Formação de Professores Alfabetizadores (Profa), lançado em 2001 pelo Ministério da Educação. Hoje coordena um programa semelhante, o Letra e Vida, na Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Referência em alfabetização, Weisz acredita que formar leitores e gente capaz de escrever é uma tarefa de todos da escola: coordenadores, gestores e professores de todas as séries e disciplinas. "Eu diria que leitura e escrita são o conteúdo central da escola e têm a função de incorporar a criança à cultura do grupo em que ela vive".
Os pais também não podem permanecer alheios, e devem ler todos os dias para as crianças. "Quem passa a primeira infância ouvindo leituras interessantes se apropria com mais facilidade da linguagem escrita", defende a especialista. Na entrevista a seguir, Telma Weis fala também da responsabilidade da escola para combater o analfabetismo funcional e da diferença entre alfabetização e letramento.

Confira abaixo uma entrevista com Telma Weisz:

1. O que é ser alfabetizado?
Telma Weisz: Vejo a aquisição do sistema de escrita - popularmente conhecida como alfabetização e que chamamos de alfabetização inicial - como parte de um processo. Mesmo os adultos nunca dominam todos os tipos de texto e estão sempre se alfabetizando. Ser alfabetizado é mais do que fazer junções de letras, como B com A, BA.

2. Qual a diferença entre alfabetização e letramento?
Telma Weisz: No passado, era considerado alfabetizado quem sabia fazer barulho com a boca diante de palavras escritas. Só então se estudava Língua Portuguesa e gramática. Para quem acredita no letramento, a criança primeiro aprende o sistema da escrita e só depois faz uso social da língua. Assim como antes, isso dissocia a aquisição do sistema das práticas sociais de leitura e escrita. Para evitar essa divisão, passamos a usar o termo cultura escrita.

3. Qual a importância do professor como leitor-modelo?
Telma Weisz: A leitura é uma prática e para ensinar você precisa aprender com quem faz. Porém, este é um nó: como formar leitores se você não lê bem? E como ler bem se você saiu de uma escola que não forma leitores? A solução é de longo prazo e requer programas de educação continuada que tenham um trabalho sistemático nessa área. Nas reuniões do Profa, eram dados três textos ao formador. Ele escolhia um e lia para os professores, que recebiam os três. Ao fim do ano, eles haviam lido 150 textos de vários gêneros.

4.Como os pais podem colaborar na alfabetização?
Telma Weisz: Lendo todos os dias para as crianças. Quem passa a primeira infância ouvindo leituras interessantes se apropria com mais facilidade da linguagem escrita. Assim, na hora em que lê e escreve de forma autônoma, já sabe o que e como produzir. Isso também possibilita à criança entender os textos que lê.

5. Por que saem das escolas tantos analfabetos funcionais?
Telma Weisz: Porque a escola só reconhece como alfabetização a aquisição do sistema. Em vez de investir na competência leitora, concentra-se no ensino de gramática. Por isso há analfabetos funcionais com muitos anos de escolaridade. Formar leitores e gente capaz de escrever é uma tarefa de coordenadores, gestores e professores de todas as séries e disciplinas. Eu diria que leitura e escrita são o conteúdo central da escola e têm a função de incorporar a criança à cultura do grupo em que ela vive. Isso significa dar ao filho do analfabeto oportunidades iguais às do filho do professor universitário.

6. Como reverter este quadro?
Telma Weisz: Lendo, discutindo, trocando idéias, vendo o que cada um entendeu e pesquisando em fontes diversas. É preciso tornar o texto familiar, conhecer suas características e trazer para a sala práticas de leitura do mundo real. Se a função da escola é dar instrumentos para o indivíduo exercer sua cidadania, é preciso ensinar a ler jornal, literatura, textos científicos, de história, geografia, biologia. Consegue ler bem quem teve algum tipo de oportunidade fora da escola. Os que dependem apenas dela são os analfabetos funcionais. E a escola faz isso porque não compreende claramente a sua função.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

QUEM É EMÍLIA FERREIRO

Nenhum nome teve mais influência sobre a educação brasileira nos últimos 20 anos do que o da psicolinguista argentina Emilia Ferreiro. A divulgação de seus livros no Brasil, a partir de meados dos anos 1980, causou um grande impacto sobre a concepção que se tinha do processo de alfabetização, influenciando as próprias normas do governo para a área, expressas nos Parâmetros Curriculares Nacionais. As obras de Emilia – Psicogênese da Língua Escrita é a mais importante – não apresentam nenhum método pedagógico, mas revelam os processos de aprendizado das crianças, levando a conclusões que puseram em questão os métodos tradicionais de ensino da leitura e da escrita. "A história da alfabetização pode ser dividida em antes e depois de Emilia Ferreiro", diz a educadora Telma Weisz, que foi aluna da psicolinguista.
Emilia Ferreiro se tornou uma espécie de referência para o ensino brasileiro e seu nome passou a ser ligado ao construtivismo, campo de estudo inaugurado pelas descobertas a que chegou o biólogo suíço Jean Piaget (1896-1980) na investigação dos processos de aquisição e elaboração de conhecimento pela criança – ou seja, de que modo ela aprende. As pesquisas de Emilia Ferreiro, que estudou e trabalhou com Piaget, concentram o foco nos mecanismos cognitivos relacionados à leitura e à escrita. De maneira equivocada, muitos consideram o construtivismo um método.

Tanto as descobertas de Piaget como as de Emilia levam à conclusão de que as crianças têm um papel ativo no aprendizado. Elas constroem o próprio conhecimento – daí a palavra construtivismo. A principal implicação dessa conclusão para a prática escolar é transferir o foco da escola – e da alfabetização em particular – do conteúdo ensinado para o sujeito que aprende, ou seja, o aluno. "Até então, os educadores só se preocupavam com a aprendizagem quando a criança parecia não aprender", diz Telma Weisz. "Emilia Ferreiro inverteu essa ótica com resultados surpreendentes."
O princípio de que o processo de conhecimento por parte da criança deve ser gradual corresponde aos mecanismos deduzidos por Piaget, segundo os quais cada salto cognitivo depende de uma assimilação e de uma reacomodação dos esquemas internos, que necessariamente levam tempo. É por utilizar esses esquemas internos, e não simplesmente repetir o que ouvem, que as crianças interpretam o ensino recebido. No caso da alfabetização isso implica uma transformação da escrita convencional dos adultos (leia mais sobre as hipóteses elaboradas pelas crianças na tentativa de explicar o funcionamento da escrita). Para o construtivismo, nada mais revelador do funcionamento da mente de um aluno do que seus supostos erros, porque evidenciam como ele "releu" o conteúdo aprendido. O que as crianças aprendem não coincide com aquilo que lhes foi ensinado.